terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Folha de São Paulo, 16 de Dezembro de 2006

Oficial causou pane em comunicação aérea.

Tenente manuseou a central de distribuição de freqüências para tentar consertar falhas detectadas no início do mês
Ele teria agravado o problema, por imperícia, e derrubado o link dos sistemas, trocando freqüências de rádio

LEILA SUWWANDA

SUCURSAL DE BRASÍLIA


Foi um oficial tenente, não um sargento, que causou a pane inédita de comunicações que paralisou o tráfego aéreo no país no início do mês.
Depois que foi descartada a hipótese de sabotagem por parte de sargentos controladores de tráfego aéreo, fontes militares vazaram que fora um sargento que havia derrubado as freqüências de rádio do Cindacta-1. Ele teria reconhecido o erro aos prantos, conforme foi noticiado. A Aeronáutica não negou essa versão.
Oficialmente, o governo falou apenas da "falha humana" de um "técnico". Mesmo com o recuo, sargentos que atuam na área técnica e no próprio controle aéreo ficaram revoltados. Avaliam que oficiais da Aeronáutica sistematicamente encobrem seus próprios erros e culpam a patente inferior, os sargentos, pelos problemas ligados ao recente caos aéreo.
Ao "proteger" o tenente, os controladores afirmam que a FAB (Força Aérea Brasileira) agravou a crise interna entre as patentes no Cindacta-1.
A pane aconteceu porque o tenente manuseou a central de distribuição de freqüências para tentar consertar falhas detectadas no dia anterior, o que é confirmado por controladores que trabalharam naqueles dois dias. Porém, teria agravado o problema, por imperícia, e derrubado o link dos sistemas, trocando ou derrubando todas as freqüências de rádio utilizadas pelo controle aéreo para se comunicar com os aviões.
Sem rádio, os controladores decidiram acionar um plano de emergência para impedir decolagens e pousar aviões que já voavam. Isso gerou dois dias de caos em cascata em todo o país. A reportagem não conseguiu localizar o tenente responsável, que teria, segundo a Folha apurou, sido remanejado temporariamente e faria um curso de aperfeiçoamento com a empresa italiana Sitti, fornecedora do equipamento.
Além disso, controladores também afirmam que é incorreta a versão oficial da Aeronáutica de que a queda de energia por volta de meio-dia da segunda, dia 11, no Cindacta-2 (Curitiba), foi um evento "programado". De acordo com controladores, as operações de manutenção e renovação são feitas pela madrugada, para não atrapalhar o tráfego aéreo. Além disso, há geradores de energia que funcionariam caso a queda fosse prevista.
Na época, a FAB não se manifestou sobre esses dois pontos ao ser

questionada pela reportagem.