quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Confusão na corte

Confusão na corte
Postado por Luciano Martins 8/8/2007 às 9:01:38 AM
no Observatório da Impensa.

Uma juiza de Guarulhos autorizou ontem o Ministério Público Federal a apreender registros sobre o acidente em Congonhas. Logo depois, porém, a liminar foi cassada pelo tribunal federal regional de São Paulo.
A imprensa até que foi ágil ao acompanhar as trapalhadas, mas nem sempre essa tem sido sua atitude.


Investigação não convence

Luiz Egypto:

- Se na sua lida diária a imprensa se ocupasse
em cobrir mais as causas dos que os efeitos,
o distinto público seria mais bem servido
pelos produtos jornalísticos que consome.
Acidentes como o do Airbus da TAM,
catástrofes ambientais ou ferozes contendas políticas são,
no fundo, apenas isso:
fatos que se transformam em notícias,
nada mais que notícias.
Assuntos, aliás, que sempre terão lugar na pauta,
mas que não passam de fatos
– aos quais a imprensa reage esbaforida
em busca de ângulos novos
e enfoques diferenciados da concorrência.
O problema, porém, reside no antes, não no depois.
Os fatos não existem isoladamente,
e contar as histórias que os contêm exige apuração,
discernimento e tirocínio.
Acidentes aéreos, desastres ambientais
e disputas políticas não nascem do nada.
Em geral são processos que amadurecem
bem à vista de quem tem olhos para ver.
Se mais além da cobertura meramente
factual as redações se preocupassem
com investigação metódica e articulação de nexos
– vale dizer, com a produção de informação contextualizada –,
a mídia impressa brasileira produziria
uma prova cabal de que está preparada para o futuro.
Há esforços visíveis aqui e acolá,
mas o conjunto da obra ainda não convenceu.

Luciano:

Ordens e contra-ordens

Um bom exemplo de como certas informações,
em vez de ajudar a esclarecer,
acabam criando mais confusão,
aconteceu ontem no âmbito da Justiça.
Os jornais acompanharam tão bem os acontecimentos,
que não dá para ignorar que foram
devidamente alertados pelos protagonistas.
Depois que as autoridades da Aeronáutica anunciaram
que não entregariam documentos sobre
a tragédia à Polícia Federal,
a juíza federal Maria Isabel do Prado, de Guarulhos,
atendeu a um pedido do procurador Matheus Baraldi Magnani
e autorizou a operação de busca e apreensão.
Mas, poucas horas depois,
a liminar foi cassada pelo
Tribunal Regional Federal da 3a. Região,
sediado em São Paulo,
e os documentos tiveram que ser devolvidos.
O fato, destacado em todos os grandes jornais do País,
revela o que pode acontecer quando regras e protocolos são quebrados.
Toda essa confusão, e muito mais que ainda pode vir,
começou quando as autoridades permitiram que
dados da caixa-preta do Airbus fossem entregues a parlamentares.
Daí para as mãos dos jornalistas,
e para os julgamentos apressados, foi meio passo.

Bate-boca

A melhor imagem da confusão jurídica
é a fotografia do procurador tentando forçar
a entrada na sala de controle do aeroporto de Congonhas,
contra a oposição dos militares.
Os oficiais da Aeronáutica que trabalham
no Cindacta-1, em Congonhas, negaram-se a lhe entregar
os dados sobre o acidente.
Foram duas horas de tensas negociações,
que envolveram até o comandante da FAB, brigadeiro Juniti Saito,
até que veio a contra-ordem judicial.
Matheus Baraldi Magnani alegou que pretendia investigar
as falhas no sistema de controle aéreo brasileiro para,
depois, entrar com uma ação e exigir investimentos do governo.
Teve seus quinze minutos de celebridade.
Enquanto isso, o coronel Fernando Camargo,
responsável pela investigação das causas da tragédia
com o Airbus da TAM,
acusa a Agência Nacional de Aviação Civil,
a Infraero e as empresas aéreas de demora na entrega de documentos.
O coronel Camargo precisa desses documentos
para cruzamento de informações com os dados
das caixas-pretas do Airbus.
O chefe oficial das investigações afirmou,
segundo a Folha de S.Paulo,
que até os parlamentares da CPI
já receberam alguns documentos que ainda não lhe foram entregues.